Agora é a vez da Francovig querer o aumento. Como se fosse possivel as duas empresas de transporte utilizarem tarifas diferentes. Oras, é o mesmo terminal, mesmo uniforme, mesmo site e até os problemas são idênticos. Quem utiliza do transporte público sabe o sacrifício que é ir e vir em Londrina.
Motoristas estressados por terem que fazer coisas que a quantidade de membros os impossibilitam de fazer: Como cobrar do passageiro, vigiar a catraca, olhar se a idosa entrou, o muleque que saiu e ainda dirigir? Como fazer tudo isso com o celular tocando no bolso ou, ainda, parando para comprar uma lata de coca-cola no mercadinho?
Meses atrás, após sair de uma sessão da Câmara, eu entrei no ônibus 601 (Acapulco). O onibus estava com a lotação muito além da maxima permitida, tanto que, para eu poder ir até o terminal, tive que sentar em cima daquele motor fervendo, junto com outras pessoas na mesma situação – as costas encostavam no parabrisa. Era impossivel o motorista olhar no retrovisor direito do veículo e a cada ponto havia mais pessoas querendo ir embora. Compreensivel, a gente dava um jeito; encolhia mais e o cobrador soltava um grito pro povo do fundo apertar. Pelo calor absurdo, alguém, em uma outra viagem, não resistiu e acabou vomitando. O cheiro era horrível e o lugar que eu estava, de costas para o sol, não batia vento algum. O motorista continuou abrindo a porta da frente, meus pés nem estavam mais no chão – tive que deixa-los suspensos para dar mais espaço. As pessoas se “encaixavam” dentro do coletivo. literalmente, estavam encaixadas.
Certa vez entrou um bêbado no onibus 501 (Vivi Xavier), quando o motorista parou num ponto da Av. Rio Branco. Pleno sábado, ônibus cheio e o bêbado chega anunciando:
– Que sacanagem, hein, seo motorista? Dois ônibus 501 já passaram e não abriram a porta pra mim.
O motorista, com o ônibus parado, nem olha para cara do sujeito e nem o responde. O bêbado retorna:
– Depois vou reclamar, que absurdo esses seus colegas.
Eis que o motorista corta o papo com um grito:
– Cala boca, filho-da-puta, e vai logo pro fundo.
O bêbado, que não é bobo, foi realmente para roleta. A desconfiança em cima do bêbado deve ter um motivo, às vezes por eles entrarem no coletivo, ficarem de papo, reclamando e acabar ganhando viagem gratis. Mas a reclamação do bêbado (que dê cara virou um bêbado filho-da-puta) tinha certa explicação: Os outros ônibus que passaram eram realmente da mesma linha, porém, um “Rápido” e o outro “Expresso”, linhas que não param naquele ponto.
Já na roleta, o bêbado puxa papo com o cobrador:
– Motorista nervosinho, hein?
– É… melhor tu nem mexer com ele.
– Quem deveria ta nervoso é o Sr, que logo vai perder o emprego para ele. Olhe lá, a caixinha perto dele. Logo você estará na rua e ele fazendo o seu trabalho. Sabia que os deputados vão aumentar o salário para 24 paus? E você tá perdendo o emprego pare ele alí, ó. Tem que fazer alguma coisa.
O cobrador não gostou, jogou cara feia, mandou ele pagar e passar a roleta logo. Enquanto procurava a passegem pelos bolsos, o bêbado começa a contar que a filha ta no hospital e ele está com medo de perde-la. O cobrador fez cara de “tô-nem-aí” e mandou ele dar logo a passagem. O bêbado gritou com ele dizendo que estava puxando papo e sobre a filha. Quando encontrou o dinheiro, bateu ele na caixinha do cobrador, fazendo umas moedas até saltarem. Era o sinal que o funcionário esperava para dar um jeito no bebado.
Ainda da cadeira, o cobrador deu alguns socos no bebado e, enquanto descia, ia torcendo o braço do homem sobre um dos ferros de apoio. Pela bebida ele não sentia dor alguma e o cobrador, baixinho e gordinho, ficava cada vez mais nervoso torcendo o braço do cidadão. O motorista parou o ônibus na frente do autodromo – virou-se para assistir. As crianças começaram a chorar. As pessoas ficam com medo. E o gordinho lá, torcendo o braço do bebado com toda a sua força. Eles desistem, o bebâdo senta ao chão e pede pra menininha parar de chorar.
Chegando no Terminal do Vivi, os motoristas foram rir e contar a história para o fiscal. O bebado foi atrás dizendo para o cobrador que “foi muito injusto o que ele fez” e pede seu nome. O cobrador se recusa a passar.
O bêbado busca então informação com o fiscal que logo desdenha, “ah, continua pedindo, quem sabe ele fala”. O Sr. ainda insiste, vendo a negativa, disse que era melhor então reclamar dos dois: O cobrador que bateu nele e o fiscal que não quer atende-lo. Péssima opção, ao tentar olhar o nome do fiscal em seu crachá, o bêbado leva um tapa na cara do próprio e cai no chão.
Por fim, ao entrar no ônibus que o levaria para casa, no Residencial do Café, o homem que chegou bêbado no onibus, apanhou verbalmente do motorista e fisicamente do cobrador e fiscal, ainda recebe a presença da polícia: uma viatura havia sido chamada ainda no autodromo, quando deu a primeira confusão. O bêbado, sentado quieto em seu ônibus, ao ouvir os policiais o chamando, suspirou e disse que só queria ir para casa, que é um trabalhador e bebeu para parar de pensar na filha doente.
Mas os políciais já o levavam pelo braço até a viatura.
Dias atrás, no ônibus do 311 (Santa Rita), o motorista parou o carro no meio do trajeto e entrou no mercado para comprar coca-cola. A atitude se deve ao baixo numeros de passageiros ao finais-de-semana, principalmente às 4 da tarde – que deixa tudo muito tranquilo.
Já hoje, também no 311, o motorista atrasado tinha que ir rapido demais, freiava constantemente e parava praticamente no meio da rua para o usuário entrar no coletivo. Em alguns pontos, ficaram alguns idosos para atrás: Não dava tempo de chegar perto do ônibus.
A linha que cobria o Residencial do Café era quase cômica: De dia, ônibus de tamanho normal para atender um numero nulo de passageiros e, à noite, 23 hrs, quando todos voltam dos estudos e do trabalho (como shoppings), eram obrigados a se organizarem num ônibus micro (aquele bem pequeno). Era necessário lotar os passageiros na minúscula parte da frente do coletivo, que saia arrastado, quase pegando no chão.
Esses são alguns dos problemas diários que fazem parte da paisagem do transporte e da rotina de cada um que utiliza o meio diariamente.
Mas as empresas querem sempre mais…
produzindo menos.